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Venda de íris em SP: Criptomoedas e privacidade em Ddebate

Recentemente, a cidade de São Paulo tem presenciado um fenômeno inusitado: cerca de 500 mil pessoas optaram por vender o escaneamento de suas íris em troca de criptomoedas. Este movimento, coordenado pela empresa Tools for Humanity, oferece em média R$ 600 de pagamento para aqueles que aceitam participar.
A proposta tem gerado grande interesse, mas nem todos os participantes compreendem completamente as implicações dessa troca. Ao visitar uma das aproximadamente 50 estações de escaneamento espalhadas pela cidade, os usuários são instruídos a baixar um aplicativo e assistir a um vídeo que explica o processo.
O objetivo declarado da ferramenta é assegurar que a identidade digital pertença a um humano real, algo que, segundo a empresa, é alcançado através da conversão das íris em códigos desvinculados de dados pessoais. Porém, a iniciativa não tem passado despercebida por agentes de regulação e especialistas em segurança digital.
Preocupações com privacidade e segurança
Embora a inovação destaque-se pela tentativa de associar tecnologia e identidade digital, ela levanta sérias questões sobre privacidade e a segurança dos dados biométricos. As preocupações aumentam ao considerar a possibilidade de vazamento de dados, mesmo que a empresa declare que os riscos estão sendo mitigados com medidas preventivas.
Autoridades brasileiras, como a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD), exigem a suspensão dos pagamentos até que se conclua a revisão do processo. O diretor-presidente da ANPD, Waldemar Gonçalves Ourtunho Junior, apontou que a operação deve garantir o consentimento sem contrapartida, o que por enquanto não está claro.
Especialistas, como o advogado Luiz Augusto Filizzola D’Urso, expressam ceticismo sobre a oferta de criptomoedas a 500 mil usuários sem implicações futuras de lucro, sugerindo que mais esclarecimentos são necessários.
A posição da empresa
A Tools for Humanity, sob a liderança de Sam Altman, CEO da OpenAI, argumenta que participa de um projeto de inovações digitais, recompensando os participantes com a moeda digital WorldCoin. A empresa esclarece que não está comprando as íris, mas sim valorizando a participação no projeto.
Em entrevista recente, Damien Kieran, vice-presidente de Privacidade da Tools for Humanity, destacou que as íris são convertidas em uma forma de dados anônimos. Apesar disso, as preocupações sobre a utilização futura destes dados persistem.

Após o escaneamento, os participantes recebem a criptomoeda WorldCoin, que pode ser utilizada numa rede ainda em desenvolvimento. A empresa também planeja lucrar futuramente desenvolvendo câmeras de escaneamento e novos aplicativos. No entanto, a continuidade do projeto dependerá da conformidade com regulamentos de segurança e transparência sobre o uso dos dados.
Novo paradigma de troca de dados
Este cenário de venda de íris em troca de criptomoedas representa um momento de reflexão sobre os limites entre inovação e segurança. A promessa de uma identidade digital mais segura traz à tona desafios éticos e legais que precisam ser abordados.
Enquanto a utilização de dados biométricos para monetização pode parecer uma oportunidade, a falta de regulamentação apropriada pode criar precedentes perigosos para a sociedade digital. É imprescindível que se estabeleçam diretrizes claras para assegurar a proteção dos dados dos usuários.
É fundamental considerar os possíveis impactos no mercado digital brasileiro e quais medidas podem ser implementadas para equilibrar inovação e segurança. Se manejados corretamente, esses novos desenvolvimentos poderão abrir caminho para oportunidades anteriormente inimagináveis.
Este conteúdo foi produzido com base no conteúdo originalmente publicado em Revista Oeste.
Rodrigo Neves
Presidente Nacional da AnaMid
CEO da VitaminaWeb
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